Entenda o impacto da geada negra de 1975 no Paraná, que forçou uma reestruturação da agricultura, intensificando o êxodo rural e levando agricultores a migrar para novas culturas.
A geada nada mais é, do que um fenômeno meteorológico que ocorre quando a temperatura do ar cai para 0ºC ou menos, fazendo com que o vapor d'água no ar congele forme cristais de gelo nas superfícies expostas. Esses congelamentos podem causar lesões nas plantas e até mesmo a morte do tecido.
As geadas brancas são caracterizadas pela formação de gelo nas superfícies, ocorrendo em noites frias e sem vento (RODRIGUES, 2023).
Enquanto isso, as geadas negras correspondem às geadas de vento. Quando há incidência das geadas negras, significa que os ventos desidrataram o tecido exposto da planta, e o vento seco provoca a morte dela antes da formação e do congelamento do orvalho.
Em julho de 1975, uma geada negra decorrente do deslocamento da massa de ar antártica causou a desidratação e consequente queima de cafezais na região norte do estado do Paraná transformando significativamente sua paisagem agrícola e economia (MOREIRA; DE CARVALHO, 2021). De acordo com Rodrigues e Pelegrino, foram dizimados 850 milhões de pés de café e a colheita que havia sido de 1.226.000 toneladas em 1975, caiu para 451 toneladas no ano seguinte, sendo retratada como o “fim da cafeicultura”. O prejuízo gerado foi incalculável para os agricultores e também para corretores, beneficiadores, transportadoras, exportadores e compradores (MOREIRA; DE CARVALHO, 2021).
As consequências da geada tiveram impacto socioeconômico em todo o estado. O êxodo rural e o trabalho volante tomaram força após a sua incidência, e a diversificação de culturas foi apressada neste período, transformando consideravelmente a paisagem agrária da região, que de acordo com dados do IBC (Instituto Brasileiro do Café) na década de 1960 o estado correspondia a mais de 50% da produção nacional de café. O Paraná já estava enfrentando reduções significativas na produção de café tanto em sua área de cultivo quanto na quantidade de toneladas produzidas anualmente, mas após os eventos de geada registrados, essa tendência de queda se intensificou ainda mais rapidamente (RODRIGUES; PELEGRINI, 2017).
Diante de toda a produção cafeeira dizimada, a única solução para os produtores foi remover completamente as plantas. Ainda há um temor por grandes geadas por parte dos produtores, mas atualmente as tecnologias impedem que sejam tão avassaladoras e destrutivas como foi a de 1975.
Escrito por: Luzia Elisa Woiciekovski.
REFERÊNCIAS
ANTONELLI, Diego; FERNANDES, José Carlos. Memórias talhadas no gelo. 2015. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/especiais/40-anos-da-geada-negra/memorias-talhadas-no-gelo-dj5cjs493dkqzf4aqb0xxrhu8/. Acesso em: 23 maio 2024.
MOREIRA, Juliane Roberta Santos; DE CARVALHO, Alessandra Izabel. Modulações do discurso, interpretações e memórias sobre a Geada Negra de 1975 e a cafeicultura paranaense. Historia Ambiental Latinoamericana y Caribeña (HALAC) revista de la Solcha, v. 11, n. 3, p. 288-317, 2021.
RODRIGUES, Carlos Elias Barros Sobreira. História ambiental em debate: o caso da “geada negra” de 1975 no norte do Paraná. Ars Historica, n. 25, p. 116-134, 2023.
RODRIGUES, João Paulo Pacheco; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. IMPRENSA E MEMÓRIA: A GEADA NEGRA DE 1975 NO ESTADO PARANÁ. Revista Labirinto (UNIR), v. 27, p. 210-222, 2017.
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